Carta da Ferramenta da DP: Retrucar

Por Dra. Jane Nelsen em www.positivediscipline.com/blog
Tradução e adaptação: Marília Barini
Revisão: Daniele Diniz / Jusley Valle

A Sra. Henderson disse a seu filho, Jon, pela terceira vez naquela noite: “É melhor você fazer sua lição de casa antes que seja tarde demais”.
Jon retrucou: “Se é tão importante para você, por que não faz isso?”
A Sra. Henderson ficou chocada. Afinal, ela estava apenas tentando ajudar. Ela reagiu dizendo: “Não fale assim comigo, jovem. Eu sou sua mãe.”
Jon reagiu de volta: “Bem, não fale assim comigo. Eu sou seu filho."
Nesse momento a Sra. Henderson gritou: “Vá para o seu quarto agora. Você está de castigo até aprender a ser respeitoso.” Jon gritou de volta, “Tudo bem”, enquanto ele se dirigia ao seu quarto e batia a porta.

O que cria uma cena como essa? A mãe estava demonstrando respeito enquanto gritava para o filho ser respeitoso? Não. Jon estava sendo desrespeitoso com sua mãe? Sim. Mamãe estava sendo desrespeitosa com Jon? Sim, deixe-me contar como:

1.Ela reclamou.
2.Ela assumiu o controle e deu ordens (não importa o quão agradável).
3.Ela roubou a responsabilidade de aprender de Jon, assumindo a responsabilidade
de sua lição de casa.
4.Ela não convidou Jon para descobrir o que ele queria e como conseguir.
5.Ela não está disposta a permitir que ele experimente as consequências de suas
escolhas – e aprenda com elas.

Por que os pais acham que é seu trabalho fazer o dever de casa? Ah, já posso ouvir suas objeções: “Não podemos simplesmente deixá-los falhar”. Claro que os pais não querem que seus filhos falhem. Mais uma razão para ensinar às crianças autodisciplina, autocontrole, estabelecimento de metas e habilidades de resolução de problemas, em vez de tentar controlá-las. Mais uma razão para se comunicar COM as crianças em vez de PARA elas ou POR elas. A busca por comunicar-se de forma respeitosa e por maneiras de ajudar as crianças a desenvolver um senso de capacidade e autodisciplina, é o foco da Disciplina Positiva.
Por enquanto, vamos discutir o “retrucar” e como parar de “rebater”. As sugestões a seguir são do livro Disciplina Positiva de A a Z de Jane Nelsen, Lynn Lott e H. Stephen Glenn.

Sugestões

  1. Com uma voz calma e respeitosa, diga ao seu filho: “Se eu já falei assim com você, peço desculpas. Eu não quero te magoar ou ser magoado por você. Podemos começar de novo?”
  2. Conte até dez ou escolha outra forma de pausa positiva para não reagir “retrucando”. Evite comentários como: “Você não pode falar assim comigo, mocinha!”
  3. Use a “resposta atravessada” do seu filho como informação (isso pode sinalizar que algo está errado) e lide com isso depois de ter se acalmado. Procure se lembrar de ocasiões em que você tem transformado problemas em disputas por poder com seu filho.
  4. Em vez de focar no desrespeito, concentre-se nos sentimentos. Diga algo como: “Você está obviamente muito chateado agora. Eu sei que me aborreço quando você fala desse jeito. Vamos dar um tempo para nos acalmarmos e podemos conversar mais tarde quando nos sentirmos melhor. Eu gostaria de ouvir o que está chateando você.”
  5. Não use a punição para “conseguir o controle”. Quando vocês dois se acalmarem, poderão trabalhar em uma solução respeitosa que funcione para os dois.
  6. Compartilhe seus sentimentos: “Eu me sinto muito magoada quando você fala assim comigo. Mais tarde, quero falar com você sobre outra maneira de me dizer o que quer ou como se sente.” Ou você pode dizer: “Opa! Eu me pergunto se fiz algo para ferir seus sentimentos, porque isso certamente magoou os meus”.
  7. Se você não estiver muito chateado, tente abraçar seu filho. Às vezes, as crianças não estão prontas para aceitar um abraço nesse momento. Outras vezes, um abraço muda a atmosfera para um clima de amor e respeito para ambos.

Planeje com antecedência para evitar problemas futuros

  1. Esteja disposto a observar como você pode estar ensinando o mesmo comportamento que o irrita em seu filho ao ser desrespeitoso com ele. Você criou uma atmosfera de luta de poder por ser demasiadamente controlador ou permissivo?
  2. Assegure-se de que não está “diminuindo seu filho” ao fazer exigências desrespeitosas. Em vez de dar ordens, criem rotinas juntos durante as reuniões de família.
  3. Em vez de dizer: “Pegue seus sapatos”, pergunte: “E seus sapatos?” Você ficará surpreso ao perceber o quanto é mais convidativo perguntar do que mandar.
  4. Uma vez que vocês dois tenham se acalmado, deixe seu filho saber que você o ama e gostaria de trabalhar em uma solução respeitosa sobre o que aconteceu. Assuma a responsabilidade por sua parte e trabalhem em uma solução juntos.
  5. Peça desculpas se você foi desrespeitoso. “Eu posso ver agora que fui desrespeitoso quando exigi que você pegasse seus sapatos. Como posso pedir que você seja respeitoso quando eu não sou?” Deixe seu filho saber que você não pode “forçar” que ele seja respeitoso, mas que vai trabalhar a fim de que você mesmo seja respeitoso.
  6. Faça reuniões de família regulares para que os membros da família aprendam maneiras respeitosas de se comunicar e a focar em soluções.

Habilidades de vida que as crianças podem aprender

As crianças podem aprender que seus pais estão dispostos a assumir a responsabilidade por sua participação em uma interação. Elas podem aprender que retrucar não é eficaz, e que terão outra chance de trabalhar em uma comunicação respeitosa.

Ferramenta do professor em ação
De: Ferramentas de Disciplina Positiva para Professores de Jane Nelsen e Kelly Gfroerer

Após um workshop, onde fizemos uma atividade vivencial sobre a compreensão da crença por trás do comportamento, fizemos uma pausa. Um professor da oitava série voltou para sua sala de aula para ver como estava o professor substituto. No caminho, ele viu dois estudantes brigando. Quando ele tentou acabar com a briga, um dos alunos disse: “F——você”.
Em vez de reagir, o professor tocou suavemente o braço do aluno e disse: “Eu posso ver como você está com raiva. Venha caminhar comigo.”
O estudante afastou o braço, mas começou a andar meio passo atrás. O professor disse: “Acho que você está se sentindo magoado por alguma coisa. Você quer falar sobre isso?"
O aluno pode ter se sentido oprimido por essa gentileza repentina em vez da esperada punição usual. Seja qual for a razão, ele ficou com os olhos cheios de lágrimas e disse ao professor como ele se sentia zangado (um disfarce para a mágoa) por causa de uma discussão com seu irmão.
O professor apenas escutou até que o aluno desabafou e se acalmou. Então ele disse: “Você sabe por que eu sabia que você estava se sentindo magoado com alguma coisa? Machucou meus sentimentos quando você disse, 'F——você.' Eu sabia que você não diria isso a menos que estivesse se sentindo magoado e precisasse revidar em alguém no seu caminho. Estou feliz que você se sentiu seguro falando comigo. Estou feliz que você sabe que eu me importo. Você estaria disposto a se encontrar comigo depois da escola? Podemos conversar sobre algumas ideias que podem ser úteis para você”
O professor nos contou sobre esse incidente quando voltou para o workshop. Ele pediu aos outros para debater algumas ideias sobre o que dizer quando ele se encontrasse com o aluno novamente. Os participantes tiveram várias ideias, como criar uma Roda de Escolhas da Raiva, mas a ideia de que o professor mais gostou foi apenas passar um tempo conversando com o aluno sobre suas coisas favoritas para fazer. Ele nem sequer mencionaria o incidente perturbador, a menos que o aluno o mencionasse primeiro. Concentrar-se no que era positivo na vida do aluno o ajudaria a ver que ele tinha o poder de se separar das provocações de seu irmão. Este professor tinha uma compreensão profunda do poder do encorajamento (através de passar um tempo especial com este aluno) para motivar a mudança de comportamento.

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