ROBERTA MANREZA PUBLICADO EM 15/12/2020, ÀS 00H00 - ATUALIZADO EM 17/12/2020, ÀS 15H42
Disciplina Positiva: gentil e firme ao mesmo tempo.
Entrevista Papo de Mãe com Bete P. Rodrigues sobre Disciplina Positiva
Pergunta: Afinal, o que é Disciplina Positiva?
Em poucas palavras, Disciplina Positiva é uma abordagem socioemocional baseada nas ideias de Alfred Adler que ajuda mães, pais e educadores a desenvolver habilidades de vida e a compreender e lidar com os comportamentos desafiadores das crianças e adolescentes.
A Dra. Jane Nelsen foi quem começou a utilizar essa expressão em 1981 quando escreveu seu primeiro livro: Positive Discipline. Esse livro, que foi publicado por Ballantine em 1987, logo se tornou um best sellere muitos outros vieram (e virão) complementar a série. Hoje, são mais de 20 títulos em inglês e eu co-traduzi 7 títulos para o português pela Editora Manole.
Essa é uma recente definição da Dra. Jane Nelsen:
“A Disciplina Positiva é para pais e professores que apreciam as pesquisas mais recentes que demonstram que punição ou permissividade não são eficazes em longo prazo para ajudar as crianças a desenvolver as qualidades e habilidades valiosas que servirão em suas vidas e para quem ama as muitas ferramentas de Disciplina Positiva, pois fornecem alternativas gentis e firmes.”
Observem que para explicar o que é Disciplina Positiva, a Dra. Jane Nelsen precisou também explicar o que não é: nem punição ou autoritarismo e nem permissividade ou prêmios e recompensas. Muitas pessoas ainda acreditam que disciplina é sinônimo de punição. Para quem segue essa abordagem empática e respeitosa, logo fica claro que não é.
As pesquisas comprovam que as crianças que sentem uma sensação de conexão com suas famílias, escolas e comunidades têm menos probabilidade de se comportar mal.
Pergunta: Quais são os principais conceitos da Disciplina Positiva?
A Disciplina Positiva defende o respeito mútuo, que é a habilidade de ser gentil e firme ao mesmo tempo com as crianças ou adolescentes, sem ser firme demais (autoritário) ou gentil demais (permissivo). Outro critério fundamental é estabelecer conexão ou o senso de pertença e importância. E o foco é, em longo prazo, desenvolver habilidades de vida nas crianças, tais como: responsabilidade, cooperação, habilidade de resolução de problemas, autodisciplina, autonomia e muito mais.
Por exemplo, pais autoritários não dão escolhas aos filhos que devem apenas obedecê-los ou serão punidos. Pais permissivos dão escolhas ilimitadas aos filhos e acabam cedendo demais ou deixando eles fazerem o que quiserem por não ensinar limites. A Disciplina Positiva nos ensina a oferecer escolhas limitadas, respeitosas (para as crianças, adultos e todos envolvidos na situação). Na prática poderia ser assim: “Filho, você quer guardar os brinquedos sozinho ou com a minha ajuda? Você decide.” Essa é uma das ferramentas mais famosas da Disciplina Positiva e é muito eficaz com crianças pequenas. Chama-se “escolhas limitadas”.
Pergunta: Quantas ferramentas da Disciplina Positiva existem e onde podemos aprender mais sobre essa abordagem?
Existem dezenas de ferramentas práticas, eficazes, que nos ajudam a lidar com os comportamentos desafiadores das crianças e que também desenvolvem habilidades de vida em longo prazo, enquanto desfrutamos de relações mais harmoniosas, respeitosas e empáticas.
Quero ressaltar que nenhuma é “mágica” e funciona em todas as situações, mas posso garantir que, por experiência própria, o uso contínuo de várias pode transformar vidas e tornar as relações mais respeitosas, empáticas e felizes.
Você pode aprender mais sobre os conceitos e essas ferramentas práticas nos livros e cursos de Disciplina Positiva para mães, pais e educadores. Existem no Brasil centenas de Educadores Parentais certificados em Disciplina Positiva – são pessoas que podem dar workshops, cursos sobre uma criação de filhos com essa abordagem mais eficaz e respeitosa.
Pergunta: E quando você começou a estudar e ensinar sobre o assunto?
Eu comprei e comecei a ler o meu primeiro livro de Disciplina Positiva em janeiro de 2008 quando eu e cinco colegas participamos de um curso intensivo em Los Angeles de três meses (de janeiro a março de 2008) no qual, entre outras abordagens para desenvolver habilidades socioemocionais e de vida, a Disciplina Positiva nos foi apresentada. Por desconhecimento do assunto, confesso que logo associei Disciplina à rigidez e não fiquei inicialmente muito motivada pelo tema. Mal sabia eu, naquela época, o quanto a Disciplina Positiva me ajudaria como mãe, madrasta, professora, a cada dia, por todos os anos que se seguiriam. Hoje, eu sou Trainer em Disciplina Positiva, isto é, dou cursos de certificação internacional, reconhecidos pela Positive Discipline Association para certificar educadores parentais e outros profissionais em Disciplina Positiva.
Pergunta: Alguma orientação / dica final para quem quer aplicar a Disciplina Positiva com seus filhos?
Para ser eficaz com a Disciplina Positiva, você deve modelar o que deseja ensinar: respeito, por exemplo. “Surtar” e depois castigar não é respeitoso. Você não pode esperar que uma criança controle seu comportamento quando você não controla o seu próprio. Isso não significa que você tem que ser perfeito. Afinal, princípios fundamentais da Disciplina Positiva, como Rudolf Dreikurs ensinava repetidamente, são: “ter a coragem de ser imperfeito” e “enxergar os erros como oportunidade para aprender”.
Referência Bibliográfica:
Nelsen, Jane. Positive Discipline. New York: Ballantine Books, 2006. (3ª edição publicada no Brasil com o título Disciplina Positiva. Barueri: Manole, 2015)
Bete P. Rodrigues é mãe, madrasta, vódrasta, professora há mais de 30 anos e hoje atua também como Consultora Educacional, palestrante, coach parental, tradutora e Trainer em Disciplina Positiva para mães, pais e profissionais. Você encontra informações sobre cursos on-line em: @disciplinapositivabrasil e www.beteprodrigues.com.br
Fonte: https://papodemae.uol.com.br/noticias/comportamentos-desafiadores-das-criancas-e-adolescentes.html